Isto acontece porque à medida que o atleta vai acumulando o
trabalho dos vários dias de treino, vai condicionando a sua mente e o
seu corpo para ter um determinado desempenho com uma postura ou
abordagem específica, transformando-se na sua atitude em competição.
Possivelmente existem atletas que treinam menos bem e nem tão pouco
se preocupam se estão a ter uma atitude promotora de bons desempenhos ou
não, e ainda assim conseguem bons resultados. Mas por cada um destes,
existe um milhar que não consegue.
Você não tem que ser um atleta profissional ou um campeão olímpico
para ser um atleta bem-sucedido. Nem tem que ter uma sala cheia de
troféus, ganhar um campeonato nacional, ou fazer a primeira página da
secção de desporto. Alguns dos atletas com sucesso com que tenho
trabalhado na implementação de programas de preparação mental, incluem
por exemplo, atletas de judo de nível regional, alguns de nível nacional
e outros de nível internacional, alguns atletas da natação,
campeões regionais, campeões nacionais, de nível internacional, no
atletismo, alguns atletas que ainda não conseguiram mínimos para
campeonatos nacionais, atletas de nível nacional e atletas já medalhados
em campeonatos do mundo.
O que estes atletas têm em comum é que o desporto é importante para
eles. Todos estes atletas estão comprometidos em serem o melhor que
conseguirem no âmbito das suas limitações. Eles estabelecem metas
ambiciosas, mas realistas para si e para com o treino duro e exigente.
Eles são bem sucedidos porque estão perseguindo os seus objectivos e a
desfrutar ao máximo do seu desporto. A sua participação no desporto
enriquece a sua vida, acreditando que vale a pena o esforço que colocam
diariamente no treino.
Apresento em seguida 5 estratégias mentais que considero serem
bastante relevantes no contributo que dão para o sucesso dos atletas nos
mais variados desportos. Podem todas ser aprendidas e melhoradas
através de boas instruções e da prática regular e programada.
1. Trabalhar a atitude
Todos os dias o atleta deverá trabalhar no desenvolvimento de um
atitude poderosa face ao treino duro e exigente que na grande maioria
das vezes lhe causa dor e fadiga extrema. O objectivo aqui é não se
focar no lado “negativo” do treino, mas sim focar-se sempre na
recompensa que irá obter de todo o trabalho duro que realiza. Deverá
focar-te nas emoções e sensações que irá ter quando alcançar o resultado
desejado, e que o treino árduo é sem dúvida o caminho para o sucesso.
Assim estará a construir uma atitude confiante – “isto é fantástico,
farei tudo o que tiver ao meu alcance e enfrentarei os desafios e a
dureza do treino com coragem e alegria”. Este tipo de atitude irá
“condicionar” e “programar” a mente e o corpo de forma implacável face
às adversidades e dificuldades até que consiga atingir os resultados
pretendidos. Com esta atitude consegue construir um bloqueio às
auto-sabotagens e de uma vez por todas não inventar desculpas sem
sentido. O atleta deverá focar-se a 100% na recompensa do seu treino, e
não nos aspectos negativos.
2. Trabalhar a tenacidade mental
Por exemplo, se o corpo de um nadador consegue nadar uma determinada
distância com facilidade mas a sua mente não, então estará com um grave
problema para resolver – e isto é muito usual nos atletas. Terá então
de desenvolver a sua resistência mental para que não se esteja a deitar a
baixo constantemente, como de uma luta se trata-se entre o corpo e a
mente sempre que o treino é exigente.
O atleta deverá relembra-se a si mesmo, usando as afirmações – “ eu
consigo nadar com facilidade” ou “ mesmo em esforço eu consigo nadar até
completar a série”. Deverá construir uma mentalidade de combate à
adversidade, para isso sempre que o treino esteja “difícil” deve usar a
visualização e ver-se a fazer aquilo que pretende executar, permitindo
automaticamente focar-se no que é importante e não na dor. Ao
desenvolver a sua resistência mental, aumenta largamente a capacidade de
dar indicações a si próprio nos momentos difíceis, focando-se com
discernimento naquilo que é importante para a obtenção de um bom
resultado.
3. Extrair os aspectos positivos
Uma das técnicas vulgarmente utilizadas por muitos atletas bem
sucedidos é a revisão mental dos aspectos positivos no treino. Muitos
utilizam a parte do treino dedicada à descontracção, outros fazem-no no
caminho para casa. O que eu acho mais viável é o atleta fazer este
exercício de forma sistematizada, e uma das formas eficazes de o
realizar, é procurar um local calmo onde se possa sentar ou deitar de
forma confortável, de preferência colocando-se num estado de relaxamento
induzido e depois fazer o exercício mental. Isto faz com que o atleta
crie um hábito de concentra-se nos aspectos positivos do seu treino e
daquilo em que ele é eficaz.
Este exercício mental permite criar aquilo que em psicologia
chamamos de “pistas” pequenas associações que se fazem, que permitem
ligar os circuitos motores e neuronais da boa execução. As “pistas” (uma
palavra, um gesto, uma imagem, uma sensação, ou outra coisa qualquer
que o atleta escolha) são um estímulo muito poderoso que o atleta gravou
na sua memória e que lhe associou um conjunto de movimentos,
estratégias e emoções que o colocam no seu melhor estado para a
realização das acções desportivas.
Os bons hábitos diários criam vias poderosa que aumentam a
auto-eficácia do atleta e consequentemente o seu sucesso. Por este
motivo o atleta deve propor-se a este exercício mental de extrair os
aspectos positivos do seu treino, e associar-lhe uma pista poderosa para
poder voltar a utilizar numa próxima sessão de treino e/ou em
competição, aumentando-lhe a percepção de auto-eficácia e a confiança e
consequentemente a performance.
4. Diminuir os efeitos da dor
Uma das maiores habilidades que a mente possui a favor do atleta é a
sua capacidade de diminuir a dor. Todos nós possuímos no nosso corpo
analgésicos naturais, como aqueles que estão disponíveis nas farmácias. É
bastante comum ler nos jornais que, algumas pessoas que perderam
membros num acidente grave, relatam não terem tido dores no momento do
acidente, porque o sistema poderoso da mente, e o sistema imunitário,
imediatamente libertam morfina e outros analgésicos para a área
afectada, inibindo todas as sensações de dor da vítima.
Esta incrível capacidade da mente e do corpo pode ser facilmente
utilizada por atletas, principalmente os que praticam desportos de
resistência, eu tenho usado várias técnicas que têm tido um sucesso
notável. Um dos aspectos mais fascinantes que eu descobri sobre os
atletas é que a grande maioria já tem a sua mente preparada para sentir a
dor!
Por exemplo, praticamente todos os atletas têm a noção dos seus
limites e das suas capacidades, isto é realmente bom, pois permiti-lhes
continuarem a esforçar-se para tentar ultrapassa esses mesmos limites.
No entanto, esta percepção de limites torna-se por si incapacitante em
algumas situações, dado que o atleta já conhece a sua zona de
sofrimento, ou seja, já sabe em que momento da sua prestação irá começar
a instalar-se o desconforto e a dor.
E isto é efectivamente incapacitante, pois mesmo que o atleta fosse
capaz de continuar sem sensações desagradáveis, vai colocar-se num
estado de incapacidade por indução, por auto-sugestão da dor, é como se a
dor fosse virtual.
Perante isto o que poderá então o atleta fazer?
Eu tenho sido capaz de ajudar alguns atletas (especialmente
nadadores) a conseguir treinar e competir, não sem a total inibição da
dor, mas a reduzi-la de forma substancial ou a conseguir aguentar a dor
sem sacrifício da performance. Isto é possível de diferentes formas, mas
uma das que aplico é através da introdução de uma sugestão de
auto-hipnose para que a sua mente atrase o aparecimento da dor 20 metros
mais adiante que anteriormente.
Vai-se assim condicionando o atleta a ir atrasando o aparecimento da
dor através de um conjunto de estratégias de auto-sugestão de
distracção e de dissociação da dor. Este método, tal como o treino
físico necessitam de prática, e vai-se melhorando pouco a pouco até ao
ponto de a dor não ser mais impeditiva de o atleta realizar performances
para a qual o seu corpo é capaz.
5. Evitar o excesso de informação
Os atletas possuem a habilidade de selectivamente focarem-se naquilo
que pretendem. Esta característica mental torna-se preponderante na
realização do seu desporto, exercício ou disciplina técnica, mas apenas
se conseguirem dirigir a atenção para as “pistas” ou “atalhos” que
promovem a boa performance. Igualmente significativo é perceber o que é
que não é relevante para a execução de uma boa performance, e assim
conhecer o que é motivo de distracção e sabotagem de uma boa execução.
Alguns dos atletas com que trabalhei na melhoria da sua preparação
mental, apresentavam excesso de processamento de informação,
sobrecarregando as suas mentes com estímulos com os quais não conseguiam
lidar em tempo útil. A Informação em excesso, ou informação não
significativa é envida em forma de sinal ou estímulo para o corpo,
podendo gerar alguma confusão. Este processo pode promover um estado de
indecisão, levando a que o corpo não execute os movimentos ou resultados
desejados.
Assim que consiga perceber ou identificar as pistas ou atalhos de
performance e consiga de forma clara reconhecer as distracções e pistas
ou informação não relevante, coloca-se numa melhor posição para
conseguir atingir um estado de total imersão no seu desempenho. Atingir
este estado, leva o atleta a conseguir colocar-se na sua Zona de Óptimo
Funcionamento ou atingir a sua Zona de Foco. Pistas sem importância ou
distracções como por exemplo, poder estar a pensar num passe falhado, ou
numa técnica falhada, assim como o que a equipa ou o treinador poderão
dizer, afasta o atleta daquilo que é importante focar-se para obter um
bom rendimento.
Aprender novas habilidades e desenvolver novas capacidades leva
tempo. Não importa se você está a aprender habilidades físicas ou
mentais, a repetição e aplicação são necessárias nas práticas diárias do
treino. Os atletas que conseguem perceber e desenvolver esta capacidade
ganham uma vantagem competitiva
Fonte: Ethika Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário